COMPORTAMENTO ANORÉXICO: A DISTORÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E A INFLUÊNCIA DA SOCIEDADE EM ADOLESCENTES DO OESTE DE SANTA CATARINA

Coutinho, Dieneffer Macetti

Resumo

 

Percebe-se o crescimento em indivíduos que apresentam distúrbio alimentares na nossa atualidade, podendo associar a nova cultura de beleza que vem sendo criada, desta forma haver frustações para o público que não se encaixa nesses padrões pré-definidos, levando ao desenvolvimento de algum transtorno relacionado a alimentação. A partir disso pensou-se em um projeto com o objetivo de compreender os fatores que influenciam o desenvolvimento da anorexia nervosa em adolescentes, assim como a influência que a sociedade atualmente atribui aos padrões de beleza e o influxo do mesmo na patologia, buscando conhecer os processos que o indivíduo anoréxico enfrenta para buscar a melhora da patologia. Para isso, foi realizado uma entrevista com indivíduos que haviam passado pela anorexia em um período da sua vida, com disponibilidade de participar da pesquisa. A abordagem de pesquisa adotada foi a qualitativa. Como método de pesquisa, optou-se pelo estudo de caso, realizado com 03 indivíduos do sexo feminino por meio de uma pesquisa descritiva. Para a técnica de coleta e análise dos dados foi escolhido, uma entrevista semiestruturada, com perguntas abertas e a análise de conteúdo. A pesquisa aponta vários fatores considerados relevantes para o desenvolvimento da anorexia, como a fase do desenvolvimento, o estado psíquico do indivíduo, e a sociedade em geral que na nossa atualidade é um dos principais influenciadores, outro ponto importante que ficou evidente é a importância da família como principal rede de apoio durante a fase da anorexia, evidenciando a importância de uma ajuda multiprofissional para a superação da mesma.

 Palavras-chave: Transtorno Alimentar. Anorexia Nervosa. Imagem Corporal. Sociedade.

  1. INTRODUÇÃO

 

A anorexia nervosa é considerada a terceira patologia mais comum em adolescentes, indivíduos com este diagnóstico, são considerados reféns da busca pelo corpo ideal, são moldados pelos padrões de beleza e acabam adquirindo comportamentos não saudáveis em prol desta cultura do corpo. Soares; Neri (2009) apontam que 1% da população mundial feminina tenha desenvolvido a anorexia nervosa, sendo que 90% dos casos atinge indivíduos do sexo feminino, apenas 01 em cada 10 indivíduo com anorexia nervosa são do sexo masculino, sendo que a maior incidência se dá no período da adolescência. (PALAZZO 2016)

Podemos associar o crescimento dessa patologia pela nova cultura que vem sendo criada com a ideia de beleza, novas configurações de dietas e padrões idealizados.

Fazendo um levantamento histórico percebemos o quanto o modelo de beleza foi modificado e adaptado, por exemplo, no século XX, a cultura do corpo era totalmente ao contrário do que temos hoje, nesta época o ideal do corpo era atribuído a corpos com formas arredondadas e flácidas. Foi a partir dos anos 60 que a beleza do corpo começou a ser comparada com manequins e modelos, assumindo antropometrias cada vez menores. (OLIVEIRA, HUTS, 2010)

Contudo percebesse a grande massa de pessoas que sofrem por esta patologia. De Oliveira, et al, (2003) nos mostram alguns dados relevantes no qual a taxa de letalidade da anorexia nervosa está entre 5% a 20%, desta forma a relevância em se trabalhar os fatores de riscos. Para que possa ter a pesquisa como uma alerta ou até mesmo uma conscientização para o público alvo e a população no geral, assim como uma forma de conhecimento e prevenção do desenvolvimento da anorexia nervosa, pois esta patologia pode trazer inúmeros prejuízos para os indivíduos.

A pesquisa tem como objetivo, compreender os fatores que influenciam o desenvolvimento da anorexia nervosa em adolescentes do Oeste de Santa Catarina. Desta forma busca-se identificar os múltiplos fatores que o indivíduo identifica como as causas que contribuíram para o desenvolvimento da anorexia nervosa; da mesma forma verificar a influência da sociedade, na construção da imagem corporal e o influxo para o desenvolvimento da anorexia nervosa; conhecendo os processos utilizados pelos indivíduos para o tratamento da patologia. Desta forma, levando em consideração a importância em se estudar este assunto o que instiga a pesquisa é: Quais os múltiplos fatores que influenciam o desenvolvimento da anorexia nervosa em adolescentes no Oeste de Santa Catarina?

2.     MÉTODO

Para a pesquisa foi utilizado o método qualitativo. Quanto ao seu procedimento foi descritiva, e como procedimentos técnicos, foi através de um estudo de caso. Para coleta de dados foi realizado uma entrevista com 03 indivíduos do sexo feminino com idade de 21, 25 e 37 anos participantes da pesquisa deveriam atender os seguintes critérios: diagnóstico de anorexia nervosa na adolescência, entre 14 e 18 anos de idade; apresentar os critérios do DSM e ter vivenciado o processo de tratamento da patologia.

Para encontrar este perfil de participantes na pesquisa, foi utilizada a técnica de snowball (bola de neve). E para a coleta de dados foi utilizada no estudo entrevistas semiestruturadas com perguntas abertas. Realizando a gravação das entrevistas, posteriormente as mesmas foram transcritas, e a partir disso foram divididas em categorias. E para análise e interpretação de dados foi utilizado uma análise de conteúdo. Para realizar a pesquisa se fez necessário a utilização de termos para a obtenção dos dados, foram eles: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, Termo de Autorização de Uso de Imagem. Houve a troca dos nomes dos sujeitos por nomes fictícios, utilizando Jasmim, Rosa e Íris, ocultando qualquer característica que possam identifica-los.

3.     A ANOREXIA NERVOSA

O termo anorexia nervosa, surgiu com William Gull a partir de 1873, referindo-se a doença como um emagrecimento extremo. Este emagrecimento está vinculado ao estado mental do indivíduo. (CORDÁS, CLAUDINO, 2002). Ficando claro em relatos onde a anorexia tomou início a partir de uma depressão, sendo um estado mental já conturbado, como traz Jasmim “ A anorexia começou a desenvolver na minha vida, a partir de uma depressão. ” “Quando a gente tá meia depressiva a gente não quer comer, você não sente muita vontade, aí eu comecei a emagrecer, então uma época que… eu comecei a emagrecer, emagrecer, e aquilo foi fazendo eu querer desenvolver isso. ” Aqui podemos verificar a questão da comorbidade, toda patologia pode vir acompanhada de outras questões e a principal comorbidade em transtornos alimentares como a anorexia nervosa é a depressão. São fatores que podem contribuir para a identificação de causas, fatores de risco e prognóstico da patologia. (FLEITLICH, 2000)

A anorexia nervosa é marcada por uma restrição alimentar. O indivíduo sente medo de ganhar peso, e sente vontade de emagrecer. (CLAUDINO, BORGES, 2002; FERNANDES, et al, 2008; CUBRELATI, et al, 2014). Percebemos que a pessoa perde o controle da tentativa de emagrecer indo a caminhos extremos conforme relatos de Rosa: “[…] e daí ah, quero perde um quilo, dois quilos, tá perdi um quilo perdi dois, só que daí nesse momento você percebeu que não tinha mais controle. ” “[…] era aquela a só mais um quilinho aqui vo chega no meu ideal só que aquilo saiu do controle. ”

Os indivíduos também têm uma distorção de sua imagem corporal, se acha acima do peso mesmo estando abaixo de seu peso ideal. Utiliza além de uma restrição alimentar rígida, também dietas consideradas “malucas”, “bizarras” e exercícios em grande escala. (CLAUDINO, BORGES, 2002; FERNANDES, et al, 2008; CUBRELATI, et al, 2014). Percebemos através dos relatos de todas as entrevistadas, até onde o anoréxico iria para não se alimentar ou buscar a magreza.

Referente ao período da anorexia Jasmim relata: “[…] eu fui com uma sacolinha do meu lado aí eu disfarçadamente fingia que estava comendo, mas eu estava jogando toda a comida dentro da sacola porque eu queria dar um jeito de me livrar daquela comida. ”. Também relata Íris: “[…]eu fingia que comia eu sentava na mesa e não comia ou eu comia antes de todo mundo pra não comer. ” “[…] eu corria 50 quilometro, porque nos marava no interior eu corria 50 quilometro ao redor da casa. ” Aqui nota-se o quanto o comer era algo difícil para elas (participantes) e cada uma buscava estratégias para evitar o alimento, indo ao extremo para não ingerir caloria e desta forma buscar a magreza desejada.

A anorexia nervosa já é considerada a terceira patologia mais comum entre os adolescentes, destaca-se o fato da mudança de fase de desenvolvimento corporal que o indivíduo se encontra sendo um dos fatores que possam a desencadear sintomas anoréxicos. (CLAUDINO, BORGES, 2002; FERNANDES, et al, 2008; CUBRELATI, et al, 2014). Conforme relato de Jasmim: “[…] comecei a crescer e entrar na adolescência a gente ganha um pouquinho de peso, porque tá desenvolvendo o corpo… é então eu acabei engordando um pouquinho. ”, Rosa acrescenta: “[…] o que aconteceu foi aquela transição de… dá pré-adolescência né pra fase adolescente o corpo começou a ganhar forma […] geralmente nunca passava ah de dum peso x e aquilo por causa dos hormônios comecei a ganha peso. ” Em ambos relatos a partir desta visão de “ganho de peso” que buscaram estratégias para emagrecer, porém o “ganho de peso” neste momento estava vinculado a mudança do corpo infantil para o corpo adulto, por isso que nesta fase a incidência de transtorno como a anorexia é maior.

De Oliveira, et al, (2003) trazem o mesmo relato em relação aos anoréxicos e a preocupação com o peso, com dietas e a distorção da imagem corporal, nota-se que existe uma certa cobrança desde cedo em alguns casos, conforme traz Jasmim: “Sempre fui muito complexada comigo né […] eu era uma pessoa muito complexada […] assim eu tinha muito, muito complexo comigo mesmo né, questão de aparência. ” Jasmim ainda acrescenta:

“Eu me analisava muito, então por eu achar que eu estava emagrecendo[…] então assim se eu tivesse engordado uma grama que fosse eu já entrava em desespero ai meu deus eu engordei uma grama tenho que emagrecerem […] eu já tinha um pouco de complexo eu já tinha essa preocupação comigo com meu peso ”

Porém alguns casos essa cobrança é pessoal e parece não ter influência de fora como por exemplo na fala que traz Rosa:

“Nunca fui a segui um padrão não, nunca teve uma influência a eu quero ser padrão x ou y. […] pelo fato de eu sempre ter a vaidade de tipo ne nessa questão corporal eu sempre analisei ah… então aquelas formas não era uma coisa assim pra mim natural do meu corpo assim, aí eu fui associando não era nem gordura nada excesso de peso, mas eu não fui associando como uma transformação que não tava”

Da mesma forma na fala de Íris: “Veio de mim de quere emagrecer de quere fica bonita de quere… de você quere se aceito não sei não, porque eu não era gorda também ne, mas a questão eu acho que foi por vaidade mesmo. ”

Os transtornos alimentares, são influenciados por questões genéticas, ambientais e comportamentais. Como visto acima muitas vezes a cobrança pelo corpo magro vem de si mesmo, mas algumas vezes pode ser influenciado por outros fatores biopsicossociais. (DE OLIVEIRA, ET AL, 2003). Percebemos no relato de Jasmim: “[…] as pessoas comentavam: nossa você tá mais gordinha, você deu uma engordada e aquilo já mi…mi…mi… deixava mal […] quando as pessoas comentavam achava chato não gostava. ” “[…] o que mais me ajudou a desenvolver anorexia fora a depressão foi as pessoas ficaram comentando sempre, nossa, mas você engordou, nossa, mas você tá mais fortinha. ”

Até mesmo a família pode ser um influenciador, como percebemos através dos relatos de Íris:

“ E a mãe também sempre foi de se cuidar né… a mãe sempre foi de se cuida e… pelo menos aonde eu ia a gente se espelha sempre um pouco na mãe […] desde nova nós as 03 era na verdade a mãe também era vaidosa (risos) era sim (risos) eu acho que veio daí mesmo de quere emagrecer”

Desta forma a importância de acompanhar o indivíduo anoréxico em seu meio biopsicossocial para que seja possível um entendimento mais amplo de seu estado de vida atual para que o processo tenha maior eficácia, pois o público anoréxico é caracterizado como resistentes ao tratamento, pois eles não conseguem ter a percepção do seu estado atual, desta forma negando a doença, como traz Jasmim: “[…] só que no começo eu negava   eu falava assim: não, estou bem, eu não to doente! Porque eu não aceitava muito quando as pessoas vinham fala para mim ah a Jasmim está com algum problema. […] no começo eu negava muito falava não, não to doente eu tô bem. ” “[…] realmente eu me negava muito, eu falava que não queria que eu tava bem, na minha cabeça eu tava bem. ” “[…] assim eu ignorava, ah não, da onde, não contava que tava acontecendo comigo.”

Além do medo mórbido em engordar, a anorexia prejudica nos aspectos físico e psíquicos do indivíduo, como por exemplo: distúrbios menstruais, desmineralização óssea, perda de massa muscular e gordura corporal, irregularidades digestivas, arritmias cardíacas, desidratação, intolerância ao frio, cabelos finos e fracos, entre outros. (DE OLIVEIRA et al, 2003). Vemos no relato de Jasmim: “teu cabelo começa a cair, caia uns tufão de cabelo assim, a pele ficava super ressecada, unhas quebradiças. ” “[…] sente muito cansaço né na época por causa do peso estava muito magra eu sentia muita dor né por causa que eu tava muito magra. […] assim eu não tinha forças né. […]” Acrescenta Rosa: “[…] até as próprias carências nutricionais assim ne tava quase em estado de desnutrição. ”Íris ainda relata “[…] eu parei de menstrua fiquei 02 anos sem menstrua daí chego num ponto assim que não tinha mais o que fazer. ” “[…] eu cheguei na extrema magreza foi dos 16 para os 17 que daí eu cheguei nos 32 quilos, coro e osso […] mais um pouco ia morre porque morria era coro e osso.”

Na questão psicológica ainda não existe um perfil definido, porém os anoréxicos frequentemente apresentam ansiedade, depressão, baixa autoestima, irritabilidade, intolerância à frustrações e humor lábio. Esses sintomas podem trazer diversas dificuldades tanto para a vida pessoal, como social e também profissional do indivíduo. DE OLIVEIRA et al, 2003). As pessoas que convivem com esses indivíduos servem de alvo para muitos de suas dificuldades de certa forma inconsciente, percebemos através da fala de Íris:

“ A minha irmã mais nova pago tudo os pecado, que eu era muito ruim (risos) né Kelly? (risos) eu era bem briguenta né, ela queria sai eu não queria porque eu não tinha roupa e não tinha nada que servisse, foi uma fase assim bem… daí ela queria as i, magina ne nós somos quase da mesma idade e daí eu ia sai faze o que seca desse jeito

 

 Tendo em vista a sua nova forma física anoréxica e todas as outras implicações que a anorexia traz para o indivíduo, o mesmo não apresenta nenhum tipo de inquietação tanto com a qualidade quanto com as formas físicas de seu corpo. Essa atitude é resultante da distorção corporal de si mesmo, na qual o indivíduo não tem a noção da sua forma física real, vive com a imagem distorcida de seu corpo. (APPOLINÁRIO, CLAUDINO, 2000). Entendemos esta ideia através dos relatos das participantes, Jasmim relata “[…] não me achava bonita. ” “[…] quando eu emagrecia eu ficava mais feliz. ” “[…] queria emagrecer mais um pouquinho era como se fosse conquistas assim era uma onde eu coloquei todas as expectativas. ”

 Ele passa a não aceitar mais aquele corpo, se achando a todo tempo gordo, isso leva a uma fissura com o corpo no qual o indivíduo passa a viver apenas para isso: seu corpo, sua alimentação, os alimentos, e isso leva a uma série de fatores negativos, um exemplo é quando o anoréxico passa a viver apenas com esse único objetivo: o de emagrecer. Ele não consegue aderir a outros objetivos de vida, e isso o leva a um isolamento social. (APPOLINÁRIO, CLAUDINO, 2000). Percebemos nos relatos de Jasmim:

 

“[…] eu queria emagrecer mais um pouquinho era como se fosse conquistas assim era uma onde eu coloquei todas as expectativas, eu não sei nem como eu consegui estudar esse ano porque eu tava do segundo pro terceiro ano do ensino médio, não sei nem como eu consegui passar de ano, porque eu nem conseguia focar nos estudos eu só pensava em emagrecer. ”

Ainda Jasmim acrescenta:

“[…] fica com a minha família nesse período era difícil porque eles queriam falar sobre isso, chamar a minha atenção, e eu não queria falar sabe eu não queria, então assim eu preferia sair de casa, eu não queria conversar com eles para ter que ouvir eles falar eles conversavam muito sobre isso, e me perguntavam. ”

Rosa também relata o mesmo incômodo:

“[…] é difícil daí você ia num local assim era desagradável, que o primeiro assunto era a como você tá magra, você emagreceu de novo mais magra ainda, era desagradável ouvir isso, meu Deus que gente chata, para de falar isso não tem outra coisa pra falar, gente até evitava assim pra não ter comentário chato assim. ”

Através dos relatos conseguimos perceber que cada participante achava uma forma de fugir do assunto da sua patologia, seja se isolando ou se afastando de amigos e familiares, pois como o autor relatou anteriormente existe uma negação por parte do anoréxico então para ele falar sobre isso é muito difícil.

 

3.1  A INFLUENCIA DA SOCIEDADE NA ANOREXIA NERVOSA

            A anorexia nervosa pode ser influenciada por fatores psicossociais. Um exemplo são os padrões de beleza, impostos pela sociedade como a “cultura do corpo”. A mídia é protagonista quando se refere a exibir modelos magras, sendo estes, fatores de risco que levam os indivíduos a desenvolverem comportamentos anoréxicos. Os alvos geralmente são mulheres ente 14 e 17 anos de idade, que ao se depararem com a mídia, não se encaixam nos padrões e veem a adoecer buscando uma cultura de beleza que não existe. (APPOLINÁRIO, CLAUDINO, 2000).

            Os autores Appolinário e Claudino (2000) baseiam-se no modelo multifatorial para explicar a etiologia dos transtornos alimentares, envolvendo fatores biopsicossociais influenciando tal patologia, ou seja, para um diagnóstico temos que entender o indivíduo em um todo, pois todas as interações como o meio no qual ele está inserido pode ser um ponto de partida para o desenvolvimento do transtorno.

            A anorexia nervosa em si pode ser influenciada por alguns meios, seja pela cultura ou mesmo pela mídia, mas a todo o tempo estamos sendo expostos a padrões de beleza, e isso é um fator que pode ser um estopim para a distorção da imagem corporal. (RUSSO, 2005; DAMASCENO, 2008).  Percebemos a afirmação deste contexto através do relato de Jasmim: “ […] hoje a internet a televisão força muito a você ter essa visão distorcida de você mesmo tipo não só bonita porque eu sou gordinha porque eu tenho um quadril mais largo. ” “ […] você olha aquelas meninas de televisão com corpo nossa magrinhos assim […] você não come para buscar uma perfeição que não existe. ” Rosa acrescenta:

[…] fácil você posta uma foto x y lá han, usar um filtro lá em uma foto lá, aquele corpo perfeito usam photoshop, não, não eu vo fica igualzinha, vou corta tudo que é carboidrato, vo corta tudo que é gordura, tudo que é açúcar, vo fica igualzinha, mas olha se tive olha uma concepção mais analítica.

 Com toda a tecnologia qual hoje convivemos e o acesso as mídias e as redes sociais, existe uma grande exposição dos indivíduos, porém sempre se dá através de fotos com filtros, tentando demonstrar apenas o melhor ângulo, ou aquilo que eu considero o mais bonito, desta forma entende-se a grande crescente no desenvolvimento da anorexia nervosa, pois a todo o tempo estamos expostos a essa ideia ilusória de beleza qual hoje foi construída. E as redes sociais são os meios que influenciam a população com fotos que são postados somente o lado bom, com photoshop e efeitos, saindo da realidade que realmente somos, do nosso natural. E quem realmente não tem uma visão analítica acaba se influenciando e busca essa idealização.

A mídia na nossa realidade atual, é um dos principais meios influenciadores da imagem corporal, a todo o tempo os canais de comunicação estão expondo manequins, e associando o belo ao mesmo, criando desta forma um padrão de beleza, o qual é socialmente aceitável. Ao mesmo tempo excluindo os demais diferentes manequins que existe no mundo, trazendo uma frustação para a população em geral.  (RUSSO, 2005; DAMASCENO, 2008).

O padrão de beleza muitas vezes pode ser um sonho inatingível para muitas mulheres. As mesmas sacrificam seus corpos para atingirem os padrões impostos pela mídia. Estes comportamentos podem ser um dos fatores que podem levar os adolescentes em geral a adquirirem hábitos alimentares desordenados e não saudáveis, desta forma o desenvolvimento da anorexia. (DAMASCENO, 2008).

Ao passar das décadas modelos e atrizes apresentam-se cada vez mais magras. Com toda essa ideia de beleza atribuído ao corpo magro, os indivíduos sentem-se muito pressionados a terem a mesma estrutura corporal que a mídia apresenta. Íris relata: “[…] eu peguei uma época que tipo as modelos a eu achava lindo uma modelo de perna seca. ” Sendo exposto a este padrão, muitos indivíduos buscam estratégias para alcançar essa beleza idealizada, e na própria mídia, como a internet, TV, revistas, facilitam que indivíduos aprendam métodos não saudáveis para atingir essa magreza desejada.

Ou seja, a mídia hoje nos traz um impacto negativo, na qual não conseguimos perceber a ideia de diversidade, somente de um padrão imposto. E a nossa luta neste momento é desintegra essa ideia de “magro belo” para que todos possam aceitar a sua beleza como ela é, e não como ela tem que ser. (SAIKALI, et al 2004). Rosa em seus relatos diz já ver alguma mudança:

“[…] mas hoje as mulheres estão tomando a frente tão mudando essa percepção […] porque hoje as mulheres estão diferenciadas de peso, de beleza, de conceito […] mulheres estão assumindo essa posição de tipo eu estou me sentindo bem como eu me visto, me sinto bem também o que eu como. […] ainda é pouco né a gente sabe que ainda é pouco, tem mulheres que ainda passam por situações complicadas por essa questão da mídia que tem aquela imagem bonita que você tem que tá sempre lá na frente das câmeras, acho que hoje o contexto está mudando, ainda é pouco mas está mudando já.

Então a partir deste relato conseguimos perceber novas percepções na nossa sociedade de mulheres que enfrentam a sociedade as mídias, os padrões de beleza exposto e se assumem lindas na sua singularidade, o que para a pesquisa é de grande importância perceber que mesmo a mídia tendo grande influência existe ainda pessoas que não aderi a esses padrões.

  • PROCESSOS DE TRATAMENTO DA ANOREXIA NERVOSA

            O primeiro contato do anoréxico geralmente é com um médico, pois na maioria das vezes o indivíduo não tem ideia de seu mal. E é os seus familiares que os levam buscar ajuda profissional pois são quem percebem o estado crítico que o indivíduo se encontra. (SCAZUFCA, 2004) E realmente isso se concretiza através do relato de Jasmim: […] ela (mãe) começou a me levar nos médicos especialistas para poder fazer exames só que as pessoas não descobriam nada porque realmente eu não estava doente né. ” Íris também relata: “[…] daí o pai me levo num médico que nois tinha aqui no Dr. Luiz pra me interna e daí ele disse que não que não adiantava daí ele me encaminhou para o psiquiatra pra descobri que era a anorexia. ” Ou seja, percebemos que a família é um primeiro processo que o anoréxico passa, onde a família percebe e busca ajuda profissional, para então buscar o diagnóstico.

            Após o diagnóstico da anorexia nervosa, o indivíduo deve possuir um acompanhamento multiprofissional, podendo haver tratamento psiquiátrico em regime ambulatorial ou internação hospitalar com o objetivo de apresentar práticas alimentares adequadas aos anoréxicos, que apresentam resultados mais imediatos neste processo, assim como técnicas comportamentais e cognitivas, que também possui o mesmo objetivo. (SCAZUFCA, BERLINCK, 2004) A partir dos relatos percebemos dois vieses com relação a psicoterapia. Jasmim relata: “Toda sexta-feira eu ia com a psicóloga a gente conversávamos e ela falava me analisava e depois passava para minha mãe que ela tinha achado analisado da consulta. […] a psicóloga me dizia, é uma válvula de escape que eu encontrei estornar toda aquela dor que estava dentro de mim […] fui fazendo tratamento com os psicólogos porque acabaram me liberando depois que falei com minha mãe falei assim mãe eu não vou mais porque agora eu acredito que eu esteja bem. Percebemos que houve uma melhora no caso, tendo a ajuda psicológica como uma estratégia de tratamento, onde a paciente conseguiu se sentir bem ao ponto de encerrar os atendimentos.

Porém Íris relata que “[…] ele (médico) mandou uma cartinha pro psiquiatra e me encaminhou o psiquiatra em Chapecó, daí eu comecei a trata daí eu tratava com ele aqui e lá, daí remédio pra depressão, mas antes disso eu tinha ido em psicólogo e coisa, mas não tinha adiantado nada. ” Podemos pensar neste caso, na questão de aderência ao tratamento e também que cada caso é diferente do outro da mesma forma os tipos de tratamento em cada indivíduo, ou seja dependendo o indivíduo a ajuda terapêutica pode ajudar na melhora dos sintomas ou não.

Neste processo de tratamento o indivíduo inicialmente age contra a sua vontade e cabe a família viver em função da patologia e das exigências do tratamento. Percebemos através do relato de Jasmim: “[…] mas assim elas, minha mãe, minhas irmãs, me apanhavam muito né assim elas conversaram comigo a minha família foi muito presente nesse período para mim foi muito importante ter eles assim para minha recuperação. ” Íris acrescenta: “[…] se não eles (família) a pessoa sozinha não consegue. ”Da mesma forma Rosa traz em relatos a importância da família para o seu tratamento: “ […] quem estava do meu lado sempre prestou auxilio não desistiu de mim, assim que eu acho que muitas vezes acaba pesando assim, não… na deixou eu desistir de algumas coisas. ”

4.     CONCLUSÃO

Conclui-se através dos dados obtidos que existe uma série de fatores que interferem no desenvolvimento da anorexia nervosa, os principais fatores apontados foram a fase do desenvolvimento, pois nesta fase da adolescência o indivíduo perde o seu corpo infantil e passam a adquirir novas formas para o corpo adulto, existindo desta forma, uma preocupação com o seu novo corpo, uma cobrança pessoal para perda de peso, pois todas as entrevistadas, relatam estratégias para conviver com a anorexia nervosa, uma das formas utilizadas entre elas é a restrição alimentar onde o indivíduo para de comer, ou come muito pouco, também relatam métodos compensatórios, como exercícios em alta escala e monitoram a sua ingestão de calorias.

Percebe-se as mudanças psíquicas e as comorbidades que a anorexia nervosa pode trazer aos indivíduos, como mudanças da autoestima, isolamento, depressão, e também uma negação da patologia, pois o anoréxico não tem uma percepção do seu estado atual. Existindo uma distorção de sua imagem corporal.

Desta forma através dos relatos também percebe-se que existe uma influência da sociedade atual para o desenvolvimento da patologia. Pois com a tecnologia nos dias de hoje e as redes de comunicação, os indivíduos a todo tempo estão expostos a padrões de beleza que são idealizados. E os indivíduos que não se enquadram nos padrões exposto, sentem-se mal com sua imagem corporal e passam a utilizar estratégias não saudáveis em busca dessa idealização de beleza, muitas vezes os levando para o desenvolvimento da anorexia nervosa.

Entende-se que a família é a principal rede de apoio para o anoréxico, qual irá direciona-lo para uma ajuda profissional. Muitas vezes o primeiro profissional a ser procurado é um clínico geral, pois imagina-se que a doença é física. Este profissional deve estar preparado para os sintomas apresentados e direcionar o anoréxico a um psiquiatra e/ou psicólogo, desta forma através de psicoterapia o indivíduo passa a obter uma nova visão do alimento, buscando aceitação de sua imagem corporal, adquirindo novos hábitos alimentares saudáveis.

Esta pesquisa atendeu a relevância social, possibilitando servir como uma alerta ou até mesmo uma conscientização para o público de risco e a população no geral, assim como uma forma de conhecimento e prevenção do desenvolvimento da anorexia nervosa. Com a pesquisa conseguimos perceber algumas informações, quais ficaram implícitas, como a questão de os indivíduos buscarem a todo tempo agradar o outro, seja ele família, amigos, ou a sociedade em geral. Deixo como sugestão para futuras pesquisa, o aprofundamento nesta questão, pois para o anoréxico a ideia de agradar o outro é de grande importância, desta forma sendo um caminho valido para novas pesquisas com referência ao tema.

ANOREXIC BEHAVIOR: THE DISTORTION OF BODY IMAGE AND THE INFLUENCE OF SOCIETY IN ADOLESCENTS OF THE WEST OF SANTA CATARINA

 

Abstract

 

It is possible to associate the new culture of beauty that has been created, in this way there are frustrations for the public that do not fit in these pre-defined patterns, leading to the development of some disorder related to food. From this, a project was conceived with the objective of understanding the factors that influence the development of anorexia nervosa in adolescents, as well as the influence that society currently attributes to the patterns of beauty and its influence in the pathology, seeking to know the processes that the anorexic individual faces in order to improve the pathology. For this, an interview was conducted with individuals who had undergone anorexia in a period of their life, with the willingness to participate in the research. The research approach was qualitative. As a research method, we chose a case study carried out with 03 female subjects through a descriptive study. For the technique of data collection and analysis, a semi-structured interview with open questions and content analysis was chosen. The research points to several factors considered relevant for the development of anorexia, such as developmental stage, the individual’s psychic state, and the society in general that is one of the main influencers today. Another important point that became evident is the importance of family as the main support network during the anorexia phase, highlighting the importance of multiprofessional help to overcome it.Key words: Eating disorder; Anorexia Nervosa; Body image; Society. 5.     REFERÊNCIA

APPOLINÁRIO, José Carlos; CLAUDINO, Angélica M. Transtornos alimentares. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 22, p. 28-31, 2000.

BALDIN, Nelma; MUNHOZ, Elzira M. Bagatin. Educação ambiental comunitária: uma experiência com a técnica de pesquisa snowball (bola de neve). REMEA-Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 27, 2012.

CLAUDINO, Angélica de Medeiros; BORGES, Maria Beatriz Ferrari. Critérios diagnósticos para os transtornos alimentares: conceitos em evolução. Revista Brasileira de Psiquiatria, 2002.

CORDÁS, Táki Athanássios; CLAUDINO, Angélica de Medeiros. Transtornos alimentares: fundamentos históricos. Revista Brasileira de Psiquiatria, 2002.

CUBRELATI, Bianca Sisti et al. Relação entre distorção de imagem corporal e risco de desenvolvimento de transtornos alimentares em adolescentes. Conexões, v. 12, n. 1, p. 1-15, 2014.

DAMASCENO, Vinícius Oliveira et al. Imagem corporal e corpo ideal. Revista brasileira de ciência e movimento, v. 14, n. 2, p. 81-94, 2008.

DE OLIVEIRA, Fátima Palha et al. Comportamento alimentar e imagem corporal em atletas. 2003.

FERNANDES, Carlos Alexandre Molena et al. Fatores de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares: um estudo em universitárias de uma instituição de ensino particular. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, v. 11, n. 1, 2008.

FLEITLICH, Bacy W. et al. Anorexia nervosa na adolescência. Jornal de Pediatria, v. 76, n. 3, p. 323-329, 2000.

NERI, Márcia. Obcecados pela magreza: A anorexia e Bulimia já atingiram 1% e 5% das mulheres no mundo. Ciência e Saúde. Correio Braziliese. Jul. 2009.

OLIVEIRA, Leticia Langlois; HUTZ, Claúdio Simon. Transtornos alimentares: o papel dos aspectos culturais no mundo contemporâneo. Psicologia em estudo. Maringá. Vol. 15, n. 3 (jul./set. 2010), p. 575-582., 2010.

PALAZZO, Valeria. Dados qualitativos e quantitativos sobre a anorexia. GATDA, mar. 2016.

RUSSO, Renata. Imagem corporal: construção através da cultura do belo. Movimento & Percepção, v. 5, n. 6, p. 80-90, 2005.

SAIKALI, Carolina Jabur et al. Imagem corporal nos transtornos alimentares. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 31, n. 4, p. 164-166, 2004.

SCAZUFCA, Ana Cecilia Magtaz; BERLINCK, Manoel Tosta. Sobre o tratamento psicoterapêutico da anorexia e da bulimia. Limites, p. 89-106, 2004.

SOARES, Maria Valdiza Rogério. Santidade, jejum e anorexia na História. Revista Eletrônica História em Reflexão, v. 2, n. 3, 2009.

Deixe uma resposta

Redes Sociais!

Uma plataforma que conecta psicólogos e pacientes, possibilitando atendimentos online e presenciais.

© PsicoMed Doctor Psi, LLC. All rights reserved.

Fale com o atendimento
Whatsapp
Whatsapp

Olá, visitante

Entre em sua conta

Ainda não tem cadastro? Abra conta grátis

Olá, visitante

Receba uma avaliação
Orçamento de consulta

Receba grátis o contato com o valor personalizado para a sua consulta hoje mesmo!

Programa Apoiar (páginas)

Olá, visitante

Olá, visitante

Editar Perfil

Ver Perfil Profissional, Editar, Inserir fotos

Chats

Mensagens de chats com pacientes

Notificações

Estatísticas de acesso de visitantes

Feed de Notícias

Posts na timeline dos pacientes

Publicar no Blog

Aumente o alcance de seu perfil

Painel Encaminha

Lista de encaminhamentos

Painel Ads

Gerenciamento de anúncios no Google

Plano Premium

Seu perfil em destaque na plataforma

Painel Financeiro

Sua conta Premium

Minha Conta

Gerenciar conta, alterar senha