Família: fatores protetivos e vulnerabilidades.

Não foi a morte do pai, ou a condição financeira da família, a chegada de mais um filho, a saída de casa da filha mais velha, ou o fato de que a mãe desenvolvera uma doença crônica, ou ainda, o acidente que deixou o tio inválido, que causaram a ruína familiar. Porém, passar por tudo isso ao mesmo tempo sem suporte de pessoas que não estão sofrendo diretamente as consequências, que talvez tenha alguma experiência e habilidade para resolver problemas, ou sem contar com ajuda profissional, aí sim, pode ser o início de um processo doloroso durante anos e até gerações seguidas.

Empresas não entram em falência da noite para o dia nem mesmo durante uma pandemia. Crianças não se tornam o grande problema da casa ou casais decidem pelo divórcio apenas por um único motivo. A educação dos filhos não se tornou um desafio e as escolas ou faculdades não se tornaram insuficientes em cumprir o papel ao qual diziam servir apenas por causa do isolamento social. A violência intrafamiliar aumentou no Brasil durante a Pandemia de Covid 19, mas agressões podem ser praticadas desde muito cedo dentro de casa, como já tenho exemplificado sobre bater nos filhos e o quanto bater em outros textos. De fato, se alguma dessas coisas aconteceu foi porque algo já ia mal por algum tempo.

Qualquer um destes fatores isoladamente não explicam nenhum fenômeno. Todo evento é multifatorial e nenhuma explicação pode ser simplista do tipo “causa e efeito”. Faz-se necessário identificar todas as variáveis possíveis (nunca saberemos todas) e o quanto antes, para que os impactos de qualquer crise possam ser minimizados. De fato, crise não é sinônimo de algo negativo, mas, se bem administrada pode ser uma ótima oportunidade para crescimento em todo tipo de sistema das relações humanas, como no caso de uma família.

Como já mencionei anteriormente a respeito do Ciclo de Vida Familiar, segundo proposto por alguns autores (Carter & McGoldrick, 1995), há crises que podem ser previsíveis e outras imprevisíveis. As primeiras são consideradas mudanças próprias do desenvolvimento humano em família, nomeadamente quando alguém se torna adulto, o casamento, a chegada do primeiro filho, quando um filho entra na adolescência, quando este se torna adulto e sai de casa, quando o casal se aposenta e o momento da morte. Apenas, para citar uma ordem que pode variar entre culturas e épocas. As outras são causadas por eventos que podem, ou não, ocorrer ao longo da vida de modo não propriamente esperado, como um acidente, a morte prematura, doenças crônicas, divórcios, prisões, guerras, pandemias…

Seja como for, todas as famílias enfrentarão desafios em algum momento de suas histórias e, ainda que diretamente possa envolver apenas um de seus membros, todos os outros sofrerão impactos em algum nível. A diferença entre as famílias está no modo como irão gerir as tarefas necessárias para superar os problemas e conflitos consequentes. Algumas crescem com tudo o que vivem, outras podem ficar estagnadas em alguma fase ou dificuldade “eleita” como sendo a “causa” essencial de tudo o que de ruim acontece entre seus membros, de acordo com seu potencial de Resiliência (Walsh, 2016).

Da mesma forma como também citei em outro texto, existem fatores que podem facilitar, ou não, a transição de uma família e seus membros quando enfrentam um processo de crise. Famílias com características equilibradas quanto à união e em relação à habilidade de flexibilidade entre seus membros, tendem a demonstrar maior sucesso diante dos desafios. Assim como a desunião não é boa, membros extremamente unidos criam uma fusão em suas relações e isso não é saudável. Do mesmo modo, regras rígidas na família ou ausência delas, também traz problemas de adaptação familiar e com o passar do tempo muito sofrimento. Para facilitar que em cada uma dessas dimensões (união e flexibilidade) haja bom senso, a boa comunicação se faz imprescindível (Sprenkle & Olson, 1978).

Enfim, com relação a estes princípios de funcionamento familiar: transições no ciclo de vida da família (Carter & McGoldrick, 1995), Resiliência (Walsh, 2016), união, flexibilidade e comunicação (Sprenkle & Olson, 1978), é necessário escrever com mais detalhes e em cada caso (família) há sempre particularidades que exigem outras considerações que não cabem aqui para destacar. Dependendo da fase de cada grupo familiar, a idade dos filhos, contexto de relacionamento ou condições específicas, sugiro a leitura de alguns assuntos listados nas “agendas” deste site. Ou, se preferir, entre em contato e terei satisfação em continuar nossa conversa.

Luis Antonio Silva Bernardo

Psicólogo CRP 19/004142

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