Autocrítica: a ilusão de uma habilidade.

Pode até parecer correto afirmar que precisamos ter autocrítica para melhorar nosso comportamento. Mas, por mais que alguém faça um certo esforço de reflexão para descobrir supostas “falhas” em si, isto seria feito nos limites da sua capacidade de autopercepção devido suas próprias “falhas”.

​Não precisamos de autocrítica, já existem muitas pessoas que podem nos criticar. Qualquer pessoa sem instrução, competência ou interesse verdadeiro em nos ajudar pode fazer isso e até com prazer, não precisamos nem pedir! Vale a pena aproveitar o que os outros observam de nosso comportamento – não necessariamente concordar – ou falam sobre nossos supostos defeitos ou seja lá o que for de negativo que dizem sobre nós. Podemos até agradecer e não discutir, se for realmente válido ótimo, se não, siga em frente, os resultados indicarão quem está com a razão.

​Sendo assim, ao contrário de se desenvolver um pretenso senso de autocrítica, é melhor aprimorar a capacidade de autocompaixão, que irá inclusive nos ajudar a compreender também como demonstrar a compaixão aos outros. Valorizar os vínculos inter-relacionais, aceitação, validação dos sentimentos, empatia, apoio em momentos difíceis e incentivo são qualidades muito mais produtivas para si mesmo e para compartilhar (Salvador & Castilho, 2019).

​Por outro lado, a crítica ou autocrítica acompanham as pessoas que não conseguem ter uma visão positiva da vida e de si mesmas, que criticam muito o comportamento dos outros, são intolerantes com as fraquezas alheias, preocupam-se demais com a opinião de outrem e permanecem na defensiva, podem interpretar toda ação dos outros como ameaçadora, tendem a se ver como “perseguidos” ou “vítimas”, pois não foram acolhidas na infância o suficiente para acreditar que são genuinamente aceitas.

​Este perfil de relacionamento com os outros tem início na infância. A forma como nos relacionamos com nossas crianças tem um poder muito grande de marcar o padrão com o qual irão interpretar as relações futuras em suas vidas, tanto as mais significativas e íntimas como as sociais ou a visão de mundo que terão. Pessoas que quando crianças não foram incentivadas, não receberam o devido afeto positivo, não aprenderam que podem ser aceitas mesmo com seus erros ou dificuldades, podem acabar por acreditar que tanto elas como os outros não são dignos de compaixão, ainda que não admitam.

​Modos de educar os filhos que enfatizam muito mais práticas negativas como bater, falta de limites e regras, poucos modelos saudáveis, ou contextos de mudanças intensas, podem gerar visões distorcidas sobre o comportamento das crianças.

Faz-se necessário investir no desenvolvimento da autoestima dos pequenos, pois não há necessidade de criar situações propositais para que eles passem por frustações com o suposto objetivo de ensiná-lo a lidar com estes sentimentos. As próprias circunstâncias da vida naturalmente trarão estes desafios e, quando estas coisas acontecerem, estar ao lado das crianças para ensiná-las como resolver problemas e conflitos, oferecer modelos saudáveis ou simplesmente acolhê-las, contribuirá muito mais para a boa formação da sua personalidade, sem precisar da autocrítica.

Luis Antonio Silva Bernardo

Psicólogo CRP 19/004142

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