A presença de psicólogos nas Unidades de Terapia Intensiva não é novidade, porém, diante do surgimento da pandemia do Sars-CoV 2, situação em que há uma fragilização não só pela doença mas também pelo isolamento, novas demandas no contexto hospitalar se apresentaram. Nesse sentido, fez-se necessária a reinvenção dos processos de trabalho para atender os pacientes críticos, bem como seus familiares e os trabalhadores da saúde.

No final de 2019, a Organização Mundial da Saúde foi alertada sobre vários casos de pneumonia na cidade de Wuhan, na China, em decorrência da disseminação da nova cepa de coronavírus, o SARS CoV-2 (Síndrome Respiratória Aguda Grave 2) causador da COVID-19, o qual ainda não havia sido identificado em seres humanos (OPAS, 2020). Cerca de três meses depois, o vírus já estava presente em quase todo o mundo, passando de emergência em saúde pública para pandemia.

O objetivo do presente artigo é o de discutir e compreender o papel do psicólogo nas Unidades de Terapia Intensiva voltadas a esses pacientes, mais especificamente na intubação orotraqueal. 

A intubação visa a colocação de um tubo dentro da traquéia, por meio da via oral ou nasal, para salvar pacientes críticos, sendo realizado em situações onde há prejuízos na permeabilidade das vias aéreas (YAMANAKA et al., 2010). 

De acordo com pesquisa realizada, o percentual de mortes entre os pacientes que utilizaram a ventilação mecânica no Brasil é extremamente alto, sendo a média de cerca de 80% de fevereiro a dezembro de 2020, ou seja, de cada 10 pacientes 8 evoluíram para o óbito, enquanto a média mundial era de 50%. A discrepância entre as médias está ligada à falta de protocolo nacional unificado e a utilização de pessoal sem o devido treinamento (PASSARINHO, 2022). 

O procedimento de intubação orotraqueal é comum nas unidades de terapia intensiva, sendo essencial para a manutenção da vida. No entanto, até então era realizado em pacientes sedados ou inconscientes (com exceção de algumas doenças como a fibrose cística, acidentes, cirurgias), ou seja, no caso de COVID-19 o paciente participa ativamente do processo, o que causa preocupações, angústias, medo de morrer, de não voltar a estar com os seus familiares, do isolamento. 

Ademais, ficou constatado que a internação pode ocasionar sofrimento psicológico ao paciente, o qual pode apresentar ansiedade, delirium, transtorno do estresse pós traumático, depressão, de modo que se deve utilizar estratégias de prevenção e monitorar os pacientes para fornecer o atendimento adequado. 

Acolhimento, aconselhamento, apoio emocional, clarificação, estratégias de enfrentamento, escuta ativa, orientação, psicoeducação, treino para manejo do estresse, são estratégias úteis para auxiliar os psicólogos na UTI (MIYAZAKI et al., 2016, p. 815). 

Dentre as atividades rotineiras das psicólogas no CTI COVID destacadas por Zanini et al. (2021) estão além do atendimento aos pacientes no leito, o atendimento remoto a familiares, visitas virtuais e presenciais.

Os profissionais se reinventaram, adaptaram estratégias e técnicas já utilizadas para intervir nos casos de comprometimento da fala de pacientes na UTI a fim de diminuir os efeitos do distanciamento.

As Tecnologias da Informação, tais como: ligações telefônicas, vídeo chamadas, tablets, redes sociais, celulares, permitiram a humanização do atendimento e priorizaram a escuta qualificada das demandas trazidas pelos familiares. 

A pandemia afetou a dinâmica dos hospitais e de toda a sociedade por conta do isolamento e do distanciamento social, inclusive no que se refere à terminalidade e ao luto, portanto, o papel do psicólogo foi além do atendimento no leito, permitiu o atendimento remoto a familiares, visitas virtuais, mediou a comunicação entre paciente, equipe e família, despedidas. Foi uma figura de humanização.

Descobriu-se um número reduzido de artigos relacionando a atuação do psicólogo na cena da intubação, o que demonstrou a necessidade de maiores estudos nesta área. 

Espera-se que novos processos de trabalho possam seguir na contribuição para a melhoria do atendimento de pacientes graves de COVID-19 ou daqueles que necessitarem de intubação.

Referências

MIYAZAKI, E. S. et al. Unidade de Terapia Intensiva: Aspectos Psicológicos. In Ventilação mecânica: Fundamentos e Prática clínica. VALIATTI, Jorge Luis dos Santos; AMARAL, José Luiz Gomes do; FALCÃO, Luiz. 1. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2016. p. 811-820.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. OMS declara emergência de saúde pública de importância internacional por surto de novo coronavírus. OPAS/OMS. 2020. Disponível em: https://www.paho.org/pt/news/30-1-2020-who-declares-public-health-emergency-novel-coronavirus. Acesso em: 27 de set. de 2022.

PASSARINHO, Nathália. Exclusivo: 80% dos intubados por covid-19 morreram no Brasil em 2020. Da BBC News Brasil em Londres. 19 de março de 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56407803. Acesso em: 27 de set. de 2022.

YAMANAKA, Caroline Setsuko et al. Intubação orotraqueal: avaliação do conhecimento médico e das práticas clínicas adotadas em unidades de terapia intensiva. Revista Brasileira de Terapia Intensiva [online]. 2010, v. 22, n. 2, pp. 103-111. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-507X2010000200002. Acesso em: 12 de set. 2022. 

ZANINI, A. M. et al. Atuação da psicologia em um centro de terapia intensiva dedicado para COVID-19: relato de experiência. Revista Brasileira de Psicoterapia. 23. 43-58. 2021. Disponível em: https://cdn.publisher.gn1.link/rbp.celg.org.br/pdf/v23n1a06.pdf. Acesso em: 20 de ago. de 2022. 

Como citar:

MORAES, A. R. C. V de. OLIVEIRA, A. A. A. Manejo do psicólogo na intubação orotraqueal de paciente Covid19: necessidade ​ de reinvenção dos processos de trabalho​. Trabalho de conclusão de Curso. Centro Universitário Sudoeste Paulista. Itapetininga, SP. 36 p. 2022. Disponível em: https://www.psicomednet.com.br/perfil/ana.rita.de.cassia.vieira.de.moraes/. Acesso em:

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